quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

dIAZ papa Napoli

O dIAZ tem idade sobeja e maturidade suficiente para não ver na assumpção do erro uma ferida mortal ou sequer uma pústula virulenta, uma escara infecta e pestilenta, pedindo desde já desculpa pelo despropósito de tanta coisa nojenta num lugar que celebra géneros alimentícios e tudo aquilo que os envolve. No topo dos meus odiozinhos de estimação, que nunca guardo a sete chaves e antes brado aos sete céus (quem me conhece confirma) estava (pretérito imperfeito), a Cozinha Italiana no geral. Entretanto, como castigo divino preparado há muito tempo, qual Karma sacana, o dIAZ vê-se na particular Nápoles. E eis que a minha Vida de Gourmand dá uma volta completa, com looping, u-turn, off-the-lip, floater, cut-back e mais sei lá o quê.Mais pormenores se seguirão em futuros-próximos-posts mas, por ora, fique-se com um diálogo curtíssimo que escusa grandes descrições para explicar o apego identitário, a inabalável cultura muito particular dos Napolitanos como uma Itália Maior (que me desculpem o resto dos transalpinos que, no auge de um preconceito muito antigo, lhes chamam “terrones”, ao que estes respondem com “polentones”, ou "comedores de polenta", essa mistela de milho, impensável a sul)…
EU: “Que é feito dos McDonald’s de Nápoles? Não vi nenhum, que estranho”...
ELA: “Há um perto do aeroporto, para turistas. Na cidade abriu um, há uns anos, mas fechou pouco depois, por falta de clientes”...
FIM
(por ora)




quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Guia para Ser Feliz em 3 PiQUENOS passinhos

























1.      
Para o almoço de Domingo, confeccione um substancial cozido de grão, daquele mesmo bom, que é à Algarve serrano ou Baixo Alentejo. Escolha um vinho encorpado para acompanhar e convide amigos, família, o xô prior e aquele empregado do café que, apesar de já o conhecer há 5 anos, continua a recebê-lo com aquela expressão de enfado e/ou desagrado e a quem já deu a alcunha de “trombinhas” sem saber que ele também já o baptizou a si e é um nome bem pior.
2.       Depois de toda a gente se retirar e antes de “atacar” a pilha de loiça acumulada que, já se sabe, os sacanas dos convidados nunca se voluntariam para limpar e mesmo que o façam um gajo diz sempre que não porque parece mal, doseie o que sobrou por vários tupperwares, que é como quem diz “aquelas caixas do chinês que fazem o mesmo efeito e são muito mais baratas”.
3.       Durante a semana, acorde feliz e contente para ir trabalhar. É que vai levar uma dessas caixinhas, um raminho de hortelã e um naco de casqueiro para fazer “sopinhas” e lá no “serviço” todos vão dizer “ah e tal que trabalheira, não sabes trazer coisas mais simples” mas depois vão babar para cima do prato, enquanto olham para a sua saladinha de tofu com seitã e sementes de sésamo, porque o Verão está quase aí e coiso e tal, com o mesmo ar com que aquelas donzelas que casam por am€r olham para o marido a sair do banho!

domingo, 12 de janeiro de 2014

mErCadO Para tOtÓs [tutorial com vídeo, porque o dIAZ é um gajo mÓderno]

Não deveria ser necessário "ensinar" portugueses a reconhecer Peixe Fresco. E agora era aquela parte em que justificava esta afirmação com o facto de, nos últimos anos, e pelas razões mais numerosas, o Português ter-se apartado da sua cultura (e sim, o Peixe faz TÃO parte da nossa cultura), mas abstenho-me. Por ora. Depois, logo se vê. O facto de chegar a ser triste que Um Português não saiba reconhecer peixe fresco é só isso. Triste. Mas como tristezas não pagam a diferença entre a relação preço/qualidade de pescado comprado numa grande superfície e do que é comprado num mercado, prefiro exemplificar, se ao prezado leitor interessar clicar AQUI, in vivo.




terça-feira, 7 de janeiro de 2014

O Choque (em algarví) para totós!

"Ai tão fresquinhos, estavam cheios de tinta lá na banca do Rei do Peixe", PÁRA TUDO!!! Ora aí está aquele que foi eleito, para além de outros mais óbvios, o embuste mais clássico de sempre! É o Ford T dos enganos, o blazer das insídias, o tweed das ciladas! As peixeiras não são meras mestres do pregão, mortas que estão varinas e ardinas, quanto mais mulheres e filhas de pescadores da Costa de Caparica que, descalças, caminhavam Arriba acima até aos Capuchos, Vila Nova e Lazarim com a canasta à cabeça, anunciando sardinha pequenina e bailarina, como se querem as mulheres, valha-nos Romeu Correia e a memória de tudo isto em “Calamento”.

As desenvoltas donas por trás da banca de um mercado são exímias reprodutoras de truques tão antigos como o é o consumo de pescado por quem não pesca nada de pesca e tem de comprar. E não, não pensem que lá por saberem que as moças borrifam com água os exemplares já baços, que estão lá perto! Adiante se revela, sem exigências em troca que, por exemplo, há quem injecte sangue nos olhos dos peixes para mascarar um estado post mortem de 3 e 4 dias. Ou talvez decida não revelar nada, porque os recursos são parcos e para que eu possa comer peixe do bom tem de haver quem é enganado com facilidade. E daí, talvez até revele alguma coisa porque tanto faz, agora, num tempo em que a identidade lusa se escapa por entre os dedos a ponto de se vender salmão em mercados e, imagine-se, restaurantes!

De uma vez por todas, uma banca de chocos quase afogados na própria tinta (que não é a própria, mas sim a de tantos e tantos outros chocos que foram amanhados – damn you people que insiste em pedir “chocos sem tinta” - em semanas anteriores, é o primeiríssimo sinal de que NÃO SÃO FRESCOS nem nada que se aproxime disso. É um logro onde só comedores de salmão-dourada-robalo de aquicultura caem que nem patinhos alimentados a ração (sim, a comparação era propositada). Se os chocos forem frescos, fresquíssimos, a estalar-de-fresco, o vendedor exibe-os, orgulhosamente, livre de qualquer detrito, para que possam ser admirados os reflexos caleidoscópicos nas “abas” laterais e tentáculos. E os olhos, por dEUZ, aqueles olhos que parecem fixar-nos suplicando: “Se é para morrer, que me coma quem percebe disto!”. Ou seja, com tinta. Que só “aparece” depois do grato bicho pousar na grelha!

Enquanto isso, pica-se uma cebola nova e coentros desse vaso na varanda para uma tigela | Quando o choco estiver BEM grelhado, retirar a “concha” e cortar em pedaços pequenos com TUDO o que lá está dentro (tinta, a “nhaca” castanha, ovas, TUDO) | Cobrir com a cebola e os coentros e regar com um fio de azeite DO BOM | Envolver e acompanhar com batata cozida e salada a gosto.


quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

O Gosto dos Outros – É Natal e Coiso!

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Sempre que me cruzo com “a quadra” penso “Por que raio é que cada um não faz os seus próprios luxos em vez de chamar a si os luxos dos outros que são os de todos”.
Ti Chico Padeiro, avô paterno do dIAZ, veio com os cinco filhos de um profundíssimo Alentejo para uma das Sete Quintas dos outros, no Seixal. Não se atrapalhou. Da Mundet, que transformava cortiça em quase tudo, às folgas feitas entre partidas de sueca na tasca, copos de tinto a acompanhar e sombrinhas de chocolate que me oferecia, ainda havia tempo para lançamentos à cana numa baía com vista ora para a Amora, ora para a fábrica Atlântica, na Ponta do Mato (Miratejo) onde a minha avó, sua esposa, virava bacalhaus de cura amarela com a mão que lhe deixava livre a pequenita mão da Senhora Minha Mãe, dois anos de moça que se fez a mais bonita de todas as mulheres, Zé dIAZ, o Mariachão, é que a sabia toda!

Das pescarias que eram mais conversa, vinha sempre um balde a um quarto de humildade. Chegava. Eu, pelo menos, ficava sempre satisfeito de tudo e de sabores que recordo bem. Um deles ficou-me de sobejo. Avô Chico sabia-o bem e, ao fim de semana, mesmo que houvesse cozido de grão para todos, o dIAZ tinha direito a duas ou três enguias fritas. Sim! Enguia, eiró, esse escorregadio murenídio apanhado com sertelha, esse segredo de cagaréus, hoje em dia caríssimo, mesmo já depois de atingida a sua maturidade, num estágio pós-meixão ou angula, já a caminho do Mar dos Sargaços para a desova.

Comer enguias fritas tornou-se, pela sazonalidade, logo escassez, logo preço, um rito. Que não segue um ritual por não estar escrito em lado nenhum. À excepção do cerebelo do dIAZ. Pena que seja tão difícil praticá-lo em comunhão. Este é um bicho que ou é amado ou odiado visceralmente. Curioso é que esse ódio venha, a maior parte das vezes, de gente que, repugnada pela aparência, nunca se deu ao trabalho de provar. E eu recuso-me a dizer a um comensal da minha idade as mesmíssimas coisas que digo a um fedelho mimado de 4 anos. Não é princípio. Nem preconceito. É ridículo!