Ti Chico Padeiro, avô paterno do dIAZ, veio com os cinco filhos de um profundíssimo Alentejo para uma das Sete Quintas dos outros, no Seixal. Não se atrapalhou. Da Mundet, que transformava cortiça em quase tudo, às folgas feitas entre partidas de sueca na tasca, copos de tinto a acompanhar e sombrinhas de chocolate que me oferecia, ainda havia tempo para lançamentos à cana numa baía com vista ora para a Amora, ora para a fábrica Atlântica, na Ponta do Mato (Miratejo) onde a minha avó, sua esposa, virava bacalhaus de cura amarela com a mão que lhe deixava livre a pequenita mão da Senhora Minha Mãe, dois anos de moça que se fez a mais bonita de todas as mulheres, Zé dIAZ, o Mariachão, é que a sabia toda!
Das pescarias que eram mais conversa, vinha sempre um balde a um quarto de humildade. Chegava. Eu, pelo menos, ficava sempre satisfeito de tudo e de sabores que recordo bem. Um deles ficou-me de sobejo. Avô Chico sabia-o bem e, ao fim de semana, mesmo que houvesse cozido de grão para todos, o dIAZ tinha direito a duas ou três enguias fritas. Sim! Enguia, eiró, esse escorregadio murenídio apanhado com sertelha, esse segredo de cagaréus, hoje em dia caríssimo, mesmo já depois de atingida a sua maturidade, num estágio pós-meixão ou angula, já a caminho do Mar dos Sargaços para a desova.
Comer enguias fritas tornou-se, pela sazonalidade, logo escassez, logo preço, um rito. Que não segue um ritual por não estar escrito em lado nenhum. À excepção do cerebelo do dIAZ. Pena que seja tão difícil praticá-lo em comunhão. Este é um bicho que ou é amado ou odiado visceralmente. Curioso é que esse ódio venha, a maior parte das vezes, de gente que, repugnada pela aparência, nunca se deu ao trabalho de provar. E eu recuso-me a dizer a um comensal da minha idade as mesmíssimas coisas que digo a um fedelho mimado de 4 anos. Não é princípio. Nem preconceito. É ridículo!
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