terça-feira, 7 de janeiro de 2014

O Choque (em algarví) para totós!

"Ai tão fresquinhos, estavam cheios de tinta lá na banca do Rei do Peixe", PÁRA TUDO!!! Ora aí está aquele que foi eleito, para além de outros mais óbvios, o embuste mais clássico de sempre! É o Ford T dos enganos, o blazer das insídias, o tweed das ciladas! As peixeiras não são meras mestres do pregão, mortas que estão varinas e ardinas, quanto mais mulheres e filhas de pescadores da Costa de Caparica que, descalças, caminhavam Arriba acima até aos Capuchos, Vila Nova e Lazarim com a canasta à cabeça, anunciando sardinha pequenina e bailarina, como se querem as mulheres, valha-nos Romeu Correia e a memória de tudo isto em “Calamento”.

As desenvoltas donas por trás da banca de um mercado são exímias reprodutoras de truques tão antigos como o é o consumo de pescado por quem não pesca nada de pesca e tem de comprar. E não, não pensem que lá por saberem que as moças borrifam com água os exemplares já baços, que estão lá perto! Adiante se revela, sem exigências em troca que, por exemplo, há quem injecte sangue nos olhos dos peixes para mascarar um estado post mortem de 3 e 4 dias. Ou talvez decida não revelar nada, porque os recursos são parcos e para que eu possa comer peixe do bom tem de haver quem é enganado com facilidade. E daí, talvez até revele alguma coisa porque tanto faz, agora, num tempo em que a identidade lusa se escapa por entre os dedos a ponto de se vender salmão em mercados e, imagine-se, restaurantes!

De uma vez por todas, uma banca de chocos quase afogados na própria tinta (que não é a própria, mas sim a de tantos e tantos outros chocos que foram amanhados – damn you people que insiste em pedir “chocos sem tinta” - em semanas anteriores, é o primeiríssimo sinal de que NÃO SÃO FRESCOS nem nada que se aproxime disso. É um logro onde só comedores de salmão-dourada-robalo de aquicultura caem que nem patinhos alimentados a ração (sim, a comparação era propositada). Se os chocos forem frescos, fresquíssimos, a estalar-de-fresco, o vendedor exibe-os, orgulhosamente, livre de qualquer detrito, para que possam ser admirados os reflexos caleidoscópicos nas “abas” laterais e tentáculos. E os olhos, por dEUZ, aqueles olhos que parecem fixar-nos suplicando: “Se é para morrer, que me coma quem percebe disto!”. Ou seja, com tinta. Que só “aparece” depois do grato bicho pousar na grelha!

Enquanto isso, pica-se uma cebola nova e coentros desse vaso na varanda para uma tigela | Quando o choco estiver BEM grelhado, retirar a “concha” e cortar em pedaços pequenos com TUDO o que lá está dentro (tinta, a “nhaca” castanha, ovas, TUDO) | Cobrir com a cebola e os coentros e regar com um fio de azeite DO BOM | Envolver e acompanhar com batata cozida e salada a gosto.


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