segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

I LIKE CHINESE they come from a long way overseas, but they're cute and they're cuddly, and they're ready to please...

Olhando atentamente para um planisfério, perceberíamos quase instantaneamente porque é que os restaurantes chineses não são restaurantes de comida chinesa. 

Por um lado, quem nunca experimentou longitudes mais orientais concluiria que, no que a dimensão territorial toca, a coisa é tão injusta como a possibilidade de haver restaurantes de Comida Europeia espalhados pelas Columbano Bordalo Pinheiro ou Defensores de Chaves de Pequim. E clientes chineses cheios de Humor Batanetes e preconceito a esteriotipar acerca de como "Tchí, isto deve ser carne de escargots vadios". Nunca vi um menu de restaurante chinês em Portugal que separasse os pratos por: Jiangxi, Lianing, Shanxi, Hunan, Sichuan (terrivelmente picante), Guangdong e Xinjiang, assim como não sei se, por lá, nos tais Restaurantes Europeus, não se pensa que o transmontano come Coq au vin ao pequeno-almoço ou o Norueguês um Xarém com conquilhas!  


Por outro lado, quem porventura já teve a sorte de vaguear, mesmo que não pela China, por uma Chinatown orintal qualquer, como a de Bangkok, cidade onde a comunidade chinesa é tão numerosa como proprietária de tantos, mas tantos estabelecimentos de restauração, sabe muito bem que Galinha com amêndoas, Gambas pir-piri ou Vaca com molho de ostras é coisa que se inventou por cá para não "chocar" palatos que, nos idos anos 80, eram bastante susceptíveis. Agora já não! Qualquer português, outrora famoso por ser profundamente conhecedor e exigente no que toca a peixe, come salmão de viveiro crú porque é o novo hype...
É por estas e muitas outras que se há lugar onde eu gosto de estar é no Martim Moniz em geral e em alguns santuários em particular, como aquelas casas "secretas" onde nos sentamos, acendemos um cigarro e gesticulamos um pedido de Línguas de pato fritas com pimenta, sem medo de que possam ser outra coisa que não línguas de pato fritas com com pimenta. 


sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Curarei a descaroço

Sei, por Portas das Ravessas, que este ano estamos mal de azeitonas. De Norte a Sul, o orgânico e centenário olival português sofreu às mãos de um tempo sacana! Das mais bravias árvores, marrecos e retorcidos exemplares de bojuda base e copa larga, às cuidadosamente podadas, bonsais sem escala, as oliveiras foram, na sua esmagadora maioria, por impossibilidade maior, poupadas ao varejamento outonal. Arquebina, picual, galega, cordovil ou hojiblanca, azeiteiras ou não, foram poucas as cultivares que se safaram. E a que se pensou estar minimamente aceitável não passou no teste. No lagar ou na curtimenta para a mesa. 
Não estou aqui a fazer a apologia da desgraça. Era o que mais faltava. Para isso, teria que curar sobre a infeliz falta que o azeite, uma das nossas maiores exportações, faz à economia nacional. Não é por aí. O que me preocupa é a eventual falta que o azeite bom, tuga, sem uma azeitona espanhola que seja, fará... à mesa de cada português. Aquele que arrepia, pela acidez, o tenrinho fiscal da ASAE. Aquele que cheira a milhas ao primeiro calor e ainda antes de receber a cebola, o alho, o louro, o tomate lá para o Verão. Aquele que afoga o bacalhau ou o polvo num quadro pintado a ocre de barro. Que cai em fio de ouro sobre a salada. Que trata a açorda por tu e tudo o resto por "amo-te, pá!"... 
Provei-os de todas as cores, odores e sabores. Do Norte de África a Israel, da Grécia continental às humildes ilhas Cíclades, de Itália a Espanha passando por França... acenei sempre. Com saudade. E vontade de escrever só para saber das boas novas... ao verdinho, intenso, desavergonhadamente sensual azeite português.
E se um dia não houvesse, sobre uma já gasta toalha de plástico, um pouco de vinho, um casqueiro e um pires de azeitonas temperadas a ervas do monte, esse jantar que nunca faltou aos nossos avós?  Quantos de vós reconheceriam, nisso, uma crise que não cabe em manchetes de jornal?



quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

[PUB]


O melhor vinho que €2,50 podem comprar. Honestidade. É isso! Não refere percentagens, mas a Alicante Bouschet está lá toda de bracinhos abertos. É deixá-lo respirar, minha gente, num copinho largueirão. 


quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Seja um Bom Cristão Flagelando o Islão [anúncio publicitário da Torquemada Unipessoal em 1315)

Todos os amigos do dIAZ acham que ele, essa 3.ª pessoa do singular, não é nada preconceituoso para com o Islão. Pura calúnia...
Em primeiro lugar, a óbvia preferência pelo Martim Moniz, o consumo desenfreado de carne Halal e a amizade que já vai longa com a comunidade paquistanesa olissiponense não provam, mesmo que em conjunto, nada.
Depois temos que, por muito verdade que isso pudesse ser, há sempre que ter em conta que o Islão tem, como todas as outras religiões, falhas graves.
Aponto, pois, a Maomé, a eventual ignorância que o terá impedido de ter em conta alguns dados culturais por forma a estabelecer excepções geográficas às leis que o fiel muçulmano tem que seguir. Jurisprudência monhé, portanto, porque o dIAZ também sabe expressões discriminatórias.
Pois bem, ó Mohammed... Isto não é só ouvir o que Alá tem para dizer, acatar a coisa com reverência e andar a dar ordens pela Península Arábica e Médio Oriente em nome do moço. Quando tu, jovem barbudo, chegaste a Muscat (Omã) e Syrah (Irão), devias ter tido em conta que há outras coisas sagradas para além Xariá (as leis do outro). Que ele até pode ter ouvido mal ou assim. O que vale é que houve um ou outro infiel que ainda conseguiu trazer algumas cepas das vinhas velhas para a Europa. A esse Muxarab ("Moçárabe" ou "Falso Árabe"), eis a nossa (nós, os consumidores de Moscatéis jeitosos e monovarietais Syrah) sentida homenagem. Já que a História foi ingrata!





sábado, 2 de fevereiro de 2013

Nada importa...

... Aconteça o que acontecer, teremos sempre escabeche, pequena!




Uma Península Mágica em 3 Actos

PRÓLOGO. 
Lá, numa terra longínqua, há uma Península Mágica. Tocam-na, com sensualidade marota, um sol como nenhum outro e um mar de azul mediterrânico, dadivoso como poucos. Cobrem-na florestas de pinheiro manso, pastos a perder de vista e vinhas que bebem de dois lençóis freáticos, Tejo e Sado a disputar méritos, mais as areias alvas a reflectir a luz de amadurecer a uva a ponto de, Moscatel, Syrah ou Trincadeira, Agosto é vindima! Limitam-na, a Sul, a serra de perfume a esteva e medronheiro. A Norte, a vista sobre Lisboa que Lisboa não tem. 

ACTO 1.
Moscatel de Setúbal Private Collection Domingos Soares Franco 1998, fermentação cortada a Armagnac (pipos de 5L escolhidos pelo próprio na proveniência)

ACTO 2.
Queijo de ovelha da D.ª Maximiana (nome fictício derivado da ASAE), Vila Nogueira de Azeitão.

ACTO 3.
Pão de trigo de Alfarim

EPÍLOGO.
Enquanto Portugal for Portugal, cada um honrará, mais do que defender, a sua Terra. A que o viu nascer e crescer. Não há árvore, bela e imponente, que não se alimente pelas raízes. 



dIAZ Checked In At His Confort Zone

1. Estou farto de ver programas onde alguém come, algures nos EUA, uma coisa a que chamam Confort Food. O Comer Confortável, portanto. Percebo o conceito. Não percebo como é que pode ser aplicado a frango panado. 

2. Estou farto de ver Pseudo-Lisboetas a aconselhar a Portugália ou a Trindade aos turistas que demandam um lugar onde possam comer um Late Night Snack. O Comer Fora de Horas, portanto.

3. Um jantar à Hora Certa é uma coisa assim para o militar. É quase uma obrigação. Qualquer coisa serve. Para além de que engorda. Está provado. Por alguém. Que eu não conheço pessoalmente. Mas sei que é gordo. Disseram-me. Um Jantar Fora De Horas é poesia estomacal. Segue-se à gástrica necessidade que vem com horas e horas de conversa, Gin&Tonic à mistura se tivermos sorte, minis ou ginjas ou martinis se for um dia como QUASE todos os outros, sendo que o QUASE se refere à eventualidade de haver dias em que é Gin&Tonic. O ânimo que daí vem é duplo. Estamos felizes e com fome. Não há melhor dupla de amigos que este, olarila. Ora, para aquietar este cocktail sensorial, a coisa não pode ser despicienda. É para isso que existe o Taste Of Punjab, Beco dos Surradores, à Mouraria. Não é indiano. É paquistanês. Carne Halal. Confeccionada com amor. Comida de Aquecer o Coração, chamei-lhe um dia. Como se um dia tivéramos uma avó de Sari que nos fazia aquele Byriani ou Jalfrezi ao Domingo. No caso desta gente, à Sexta. Depois da Mesquita. Confluem ali como que dizendo à Lisboa Hospitaleira Isto é autêntico, podeis confiar. Vão. E peçam a Carne Picada com Ervilhas. A qualquer hora. Ou fora dela. Mas dentro de uma mui bem delimitada Zona de Conforto.