quarta-feira, 30 de outubro de 2013

CoMeR de PoBrE!

Batata Olho-de-Perdiz. É um dos primeiros sintomas do Outono. E o fôlego extra de uma cozinha. Pura alegria. Desconfiem sempre da gastronomia que não glorifica a batata. Nem considerem aquela que, pura e simplesmente, não a usa. E a todo o minimalismo a que se pode dar largas com ela. Poucas coisas neste mundo provam que parcos recursos não significam escassez de sabor como a batata. Olho-de-Perdiz. Principalmente!

Usá-la em tudo, com tudo e a toda a hora, por favor! E nem se pense, por um segundo, em desperdiçar as cascas. Frite-as. E para um maior desfrute, faça uma maionese caseira carregadinha de pimenta verde moída no momento. 

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Vamos à caça de ROCAS, FRADES ou PÚCARAS? Vai ser um morticínio épico!

Rocas | Frades | Púcaras se de Trás-os-Montes | Beiras | Alentejo, as denominações destes selvagens, carnudos e aromáticos presentes da dadivosa província variam consoante as gentes que sabem (oh se sabem) que estes só variam ligeiramente consoante cresçam debaixo dos silvados (mais alvos) ou à sombra dos carvalhos (mais escuros). Já a maneira de cozinhá-los é tão unânime que, abaixo, divido em apenas 2 categorias: O Purismo e o Vamos Lá Ver No Que Isto Dá!
PURISMO [1] – Acenda a lareira ou o fogareiro | Retire o pé e vire-o “de pernas para o ar” | Espalhe bastante sal grosso e deposite-o perto das brasas até ficar “tostado” | Retire-o, “exprema” para retirar a água que entretanto ganha e… Bom proveito!
PURISMO [2] – Lave-os até retirar uma espécie de “capa” mais escura | Corte-os em pedaços não muito pequenos para que possa sentir textura aquando da degustação | Aos pés, corte-os ao meio longitudinalmente e pique | Num tacho, aqueça um fio de azeite e saltei-os | Quando o aroma já deixar adivinhar o maravilhoso pitéu que aí vem, tape | Deixe cozinhar até soltarem (muita) água e junte sal a gosto e uma caneca de arroz agulha para cada duas de água | mexa e deixe cozinhar em lume brando até perder perder toda a água.
VAMOS LÁ VER NO QUE ISTO DÁ [1] – Siga todos os passos do PURISMO [1] | Corte-os em pedaços pequenos, adicione 2 dentes de alho picados, pimenta preta a gosto, coentros e azeite suficiente para que permita molhar pão.
VAMOS LÁ VER NO QUE ISTO DÁ [2] – Lave-os, corte-os em pedaços e reserve | Pique um pedaço (pequeno) de bacon e frite-o em azeite num tacho | adicione os cogumelos, salteie e sue com vinho branco | Adicione sal a gosto, ervas consoante a região onde os mesmos foram apanhados (ex.: Carqueja ou Salsa se apanhados no norte, Alecrim ou Oregãos se a sul) e junte uma caneca de arroz carolino | Deixe esta mistura fritar e volte a suar com mais um fio de vinho branco | Adicione uma medida da mesma caneca de água e uma de leite meio-gordo | Mexa e deixe cozinhar em lume muito brando até restar pouquíssima água | Apague o lume, volte a mexer e tape o tacho por alguns minutos.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

dO Porto aOs cOrgos, nÃo me dOam as jUntaS!




Tenho a certeza que todos vocês têm um amigo do Porto. Ou mais. Muitos. Alguns deles ficam-se por “Os vinhos de que mais gosto são os Durienses”. Outros, mais ferranhos ou, no mínimo, exagerados, largam um “Eu só bebo vinho do Douro”.
Isto podia ser um regionalismo. Não é!
Do Porto à Régua, Pinhão, Alijó, São João da Pesqueira ou Sabrosa, não se me assem as virilhas de tanto andar ou me dêem cãibras no gémeo esquerdo de tanto carregar na embraiagem.
Quem percebe da geografia nacional concluirá que, comparativamente, o lisboeta teria de dizer que só bebe vinho de Vila Velha de Ródão! O Figueirense só beberia das Beiras. Os Caminhenses, coitados, deixariam de lado os seus belíssimos alvarinhos para beber uma zurrapa galega qualquer.
O “problema” do Porto é o mesmo de Lisboa. Não tem vinho. No que toca à proximidade, Lisboa estará, porventura, mais bem localizada, com Carcavelos, Colares, Bucelas e Península de Setúbal à mão de vindimar. À sombra desta lógica, os portuenses beberiam verde da malga e, diga-se em abono da verdade, não ficariam nada mal servidos.
Isto até poderiam apenas ser “achaques” idiossincráticos da convivência nacional. Mas é grave! Porque o volume de negócios (neste sector) gerado na Invicta possibilita muita coisa mas, posto o acima, inviabiliza muita outra. Neste momento, o Douro é a Grande Potência da vitivinicultura lusa. E é-o com justiça. Têm bons vinhos, carago. É que nem há discussão. Mas paira nos corgos um preconceito para com o Sul que chega a abafar o facto do Moscatel de Setúbal ter sido considerado o melhor do mundo e o de Favaios nem sequer ter sido pré-seleccionado de entre os franceses e italianos! Mais, está à partida morta qualquer possibilidade de nos unirmos numa luta pelo Vinho Português num Mercado Internacional onde o canibalismo já é terrível porquanto tudo estará perdido se andamos nestas briguinhas fedelhas internas!
Até porque em nome do Todo o Outro Vinho de Portugal, temos algo a apontar:
1.       É vergonhosamente desonesto que a Casa Ferreirinha, dona e senhora do Barca Velha Orgulho Nacional, lance para o mercado o Esteva. Tenham, por amor de alguém, decência!

2.       O Mateus Rosé, vinho que não o é e que, infelizmente, é o “Vinho Português” mais conhecido do mundo… é vosso! O Sul não tem qualquer responsabilidade sobre um excelente marketing aplicado a um produto que poderia muito bem vir das margens do Rio Amarelo. Sim, o da China!

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Bolo dJí Rolo


Para quem gosta de tecnologia e tem que estar sempre munido do último modelo de um gadget qualquer, fazer escala em Berlim é A Oportunidade.
Para os maníacos da imprensa escrita, receita-se Heathrow.
 Quem tem um fraquinho por produtos de papelaria em geral e cadernos com papel XPTO ou caneta XPTL em particular, vê na loja Fabriano do aeroporto de Roma… O Paraíso.
Quem precisa de um forte incentivo para deixar de fumar, pode sepre recorrer ao tratamento de choque “Sinta-se tratado como um leproso em plena Idade Média”, muito em voga no Aeroporto de Miami, Florida, E.U.A.
Quem aprecia gastar dinheiro em barda porque não sabe o que fazer a tanto, pode comprar sêmola de trigo sob quase todas as formas e artigos têxtil com etiquetas da Prada cosidas por chineses em esconsas caves de Nápoles, tudo inflaccionado em cerca de 250%, no aeroporto de Milão.
Quando embarcam em Recife, Brasil, Ti Ricardo Nery e/ou a sua cara metade, Ana Carolina Vasconcelos (Carol, para os amigos), lembram-se sempre de trazer aquilo que eu só consigo definir como uma espécie de crepe muito fino recheado de goiabada e posteriormente enrolado. E só quem nunca provou Bolo de Rolo é que não sabe toda a maximização que pode ter o minimalismo!
Um grande Schlép para todos vós,
O dIAZ!

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Da HonesTidAdE


No tempo em que os consumidores portugueses estavam civilizacionalmente mais próximos da fase produção do que comiam eram, naturalmente, mais exigentes. 
Os estabelecimentos, no último degrau da cadeia, não tinham outra hipótese que não serem, no mínimo, honestos, face ao conhecimento de que estavam munidos os seus clientes. 
[ Exemplo 1 ] O francês comum percebe minimamente de vinho. Não é "perceber" de vinho do estilo vou comprar esta garrafa porque é dispendiosa e faço um brilharete no próximo jantar lá em casa ou o vinho deve beber-se à temperatura ambiente ou não bebo brancos porque vinho é tinto. Isso são tiques de um país que ainda tem preconceito com O Néctar. Em França, bebe-se vinho sem que ninguém ache que isso fará dele um saloio alcoólico, essa sim, saloiice suprema. O vinho é parte da cultura, acompanha quotidianamente mesmo quem não o consome e, pasme-se, é motivo de orgulho nacional. Tudo isto empresta algumas obrigações aos produtores. Num ano bom, um Borgonha qualquer custará €50. No ano seguinte, porque o terroir não foi favorável, a mesmíssima garrafa pode custar €5. Porque é que isto acontece? Porque o produtor sabe que não poderá enganar o consumidor. Está obrigado a ser honesto. Em Portugal, há "marcas" que não fazem nada a que se possa chamar vinho desde 1986. Ainda assim, continuam a levar €3 por uma zurrapa ridícula a que o consumidor português é capaz de chamar "bebível". Enquanto isso, os produtores, pouco preocupados em educar o tuga a gostar de vinho, entretêm-se com guerrinhas internas, o Douro às cabeçadas com o Alentejo, o Dão a desdenhar as Beiras, são todos melhores que os outros e não há nenhum "génio" que una esta gente toda para que deixemos, de uma vez por todas, de ser conhecidos lá fora pelo Mateus Rosé.
[ Exemplo 2 ]  Não passaram muitos anos desde que o prato do dia à segunda-feira era bacalhau. Bacalhau com grão, à minhota, com broa, assado na brasa ou sob a forma de qualquer um dos seus sub-produtos, dos pastéis às pataniscas. Porquê? Porque os pescadores também têm Domingo. E nesse tempo, os clientes sabiam-no! Hoje, que a frota pesqueira portuguesa está reduzida a números históricos, até pode haver peixe fresco no primeiro dia da semana. Mas não é tão bom, por uma razão simples: Não é nosso. De tudo isto a maioria não sabe. Come, à segunda como noutro dia qualquer, "douradinha" como se não houvesse carapau, "robalinho" como se o salmonete não soubesse a marisco, desconhece por desinteresse, preocupa-se apenas com o "colesterol bom", a dieta, o cheiro que ficará na roupa e, logo, na repartição durante a tarde se optar pelas sardinhas. Não se pense, nem por um momento, que isto só nos empobrece culturalmente. Come salmão, pequena; Come salmão! Depois mete a metafísica na rabeta, que é uma corvina pequena, como certamente sabeis!
[ Exemplo 3 ] Andar em hipermercados, esses animais do dumping que condenaram, nos últimos anos, tantos e tantos produtores a um desconforto económico inaudito, à procura do selo “Compro o que é Nosso” não chega para resolver as coisas. Tampouco se admite, nos dias de hoje, qualquer interjeição de espanto quando se percebe que os produtos hortofrutícolas numa Mercearia de Bairro são, desde que nacionais e sazonais, muito mais baratos (se não a metade do preço). Do nível qualitativo dos mesmos, nem se fala. Estamos, como saberão, no Outono. É uma óptima altura para testar a honestidade de um estabelecimento. O mesmo deverá ter, por obrigação sazonal, maçã Bravo de Esmolfe. Por obrigação orgânica, Pêra Rocha com menos de 5cm de diâmetro. Comprem, por todos nós!


domingo, 29 de setembro de 2013

ACP

A lógica é a mesmíssima... Assim como há muita gente que conduz, quotidianamente, o seu BMW ou Mercedes topo de gama mas regressa, de sorriso posto, ao seu "Boca de Sapo" ou Carocha ou 2CV ou mesmo à Piaggio Vespa que guarda com mil cuidados na garagem... Também o Bom Gourmand não pode nunca passar muito tempo sem revisitar um Grande Clássico!


quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Papo Seco

Tem de haver qualquer coisa de Enorme num povo que passa fome desde que existe num país onde o padeiro teima em deixar o pão à mão de outros semearem sem que ninguém o faça.   







segunda-feira, 2 de setembro de 2013

C'esT uN Pique-NiquE, CoN


Durante o ano, há três momentos em que apetece mesmo um piquenique...
1. Assim que chega a Primavera
2. A qualquer momento desde que não chova
3. Naquela altura em que se percebe que o Verão irá acabar e tentamos agarrá-lo com unhas e incisivos...


quinta-feira, 22 de agosto de 2013

De GustA

Na Tasca do Ti dIAZ havia um novo vinho (e não Vinho Novo) para experimentar...

Casa da Passarela "O Enólogo", Tinto, Vinhas Velhas, Dão, Colheita 2009

Antes de mais, uma desmitificação: Tem direito a uma valente vergastada de pau de loureiro quem disser que o vinho tem de ser bebido "à temperatura ambiente". Uma coisa são preferências. Outra é parvoíce. Têm estado cerca de 34ºC às 17h, pelo que me recuso a apanhar um avião até à Noruega para beber um copo de tinto. Ora, supondo que isto possa constituir um tremendo choque para os mais entendidos na matéria, prefiro, por razões não só económicas mas também organizacionais, metê-lo um pouco no frigorífico. Até porque respeito muito aquela "mania" dos produtores de guardar o vinho nas caves, acho que é por serem lugares mais frescotes ou lá o que é. Ainda por cima, diz-se por aí (pelos vistos às escondidas dos eruditos escansões), que é precisamente nas caves que, geralmente, se prova o vinho!

Posto isto, vamos ao que interessa: Não se prova vinho com "cerca de 62 castas" sem dar ao dente. Não se vai perceber patavina do que ali se passa (na boca) e, para além disso, é indelicado. Na Tasca do Ti dIAZ as coisas não se fazem assim. Mas afinal como se fazem? Para ser sincero, nem eu sabia à altura. Mas depois vi, pendurado ao pé do louro e dos oregãos, um resto de chouriço de porco preto que tinha usado num cozido. Juntando-lhe mais uns nacos de torresmos e mais uma outra azeitona, um fio de azeite, 200gr de farinha e uma colher de chá de fermento dissolvido em água morna, eis que foi esperar uma hora que levedasse, outros 45min que cozesse. Et voilá, foi um sucesso. O vinho, claro. Embora eu goste de pensar que, sem o Pão de Refugo do dIAZ Para Provas de Vinho Sensacionais, não teria sido a mesma coisa!
   



AnTeS
  

dEPoiS



pLanTa oVo

De uma vez por todas, tende em conta que uma beringela é "Eggplant" em inglês.
Bem sei que não nos podemos fiar numa língua que chama "Mosca de Manteiga" a uma borboleta ou "Pássaro Preto" a um melro. Mas neste caso ajuda...
Se estão até hoje para perceber o fascínio que exerce a beringela sobre tantas gastronomias do mundo, é porque andam a comer as beringelas erradas. As que estão cheias de sabor e textura, as boas ou, sinónimo, orgânicas, têm o tamanho de ovos. As que andam por aí nos supermercados, luzidias, gigantescas, teriam, em inglês, a denominação de "ostrich eggplant". Não creio que isso exista. Mas posso estar errado. E A Gente está sempre a aprender!

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Tá Que É Doce

Verão que é Verão traz de bónus um ou outro dia em que apetece ir buscar a roupa de Inverno. Que é como quem diz Em vez de ficar chateado porque está frio, vou antes aproveitar e fazer uma feijoada para descansar de tanto peixe grelhado e saladinhas policromáticas. 

Mas também há aqueles dias que, não sendo frios, não convidam a actividades de estio, tipo praia ou assim... Dias que não são carne nem peixe, portanto. 

********É nesses que dIAZ y su Mariachito vão às amoras.********

Não as amoras de verdade, das que nascem nas árvores cujas folhas alimentam bichos da seda, mas as amoras das silvas. Amoras de pobre. E nós, os pobres, sabemos que fruta onde bicam os pássaros, sejam nêsperas ou amoras, damascos ou figos, é fruta como-deve-de-ser. Fruta de chinchada, é isso.

O que saiu desta frutífera manhã (peço desculpa pelo trocadilho Batanetes inadvertido), ilustra-se abaixo em quatro simples passos:

1. Chinchada | 2. Lavagem (em várias vezes, até que larguem os minúsculos esporos) | 3. Cozedura (durante 1h - 1 caneca de açúcar amarelo por cada 4 canecas de amoras, 1 pau de canela) | 4. Enfrascamento 












 

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

I LIKE CHINESE they come from a long way overseas, but they're cute and they're cuddly, and they're ready to please...

Olhando atentamente para um planisfério, perceberíamos quase instantaneamente porque é que os restaurantes chineses não são restaurantes de comida chinesa. 

Por um lado, quem nunca experimentou longitudes mais orientais concluiria que, no que a dimensão territorial toca, a coisa é tão injusta como a possibilidade de haver restaurantes de Comida Europeia espalhados pelas Columbano Bordalo Pinheiro ou Defensores de Chaves de Pequim. E clientes chineses cheios de Humor Batanetes e preconceito a esteriotipar acerca de como "Tchí, isto deve ser carne de escargots vadios". Nunca vi um menu de restaurante chinês em Portugal que separasse os pratos por: Jiangxi, Lianing, Shanxi, Hunan, Sichuan (terrivelmente picante), Guangdong e Xinjiang, assim como não sei se, por lá, nos tais Restaurantes Europeus, não se pensa que o transmontano come Coq au vin ao pequeno-almoço ou o Norueguês um Xarém com conquilhas!  


Por outro lado, quem porventura já teve a sorte de vaguear, mesmo que não pela China, por uma Chinatown orintal qualquer, como a de Bangkok, cidade onde a comunidade chinesa é tão numerosa como proprietária de tantos, mas tantos estabelecimentos de restauração, sabe muito bem que Galinha com amêndoas, Gambas pir-piri ou Vaca com molho de ostras é coisa que se inventou por cá para não "chocar" palatos que, nos idos anos 80, eram bastante susceptíveis. Agora já não! Qualquer português, outrora famoso por ser profundamente conhecedor e exigente no que toca a peixe, come salmão de viveiro crú porque é o novo hype...
É por estas e muitas outras que se há lugar onde eu gosto de estar é no Martim Moniz em geral e em alguns santuários em particular, como aquelas casas "secretas" onde nos sentamos, acendemos um cigarro e gesticulamos um pedido de Línguas de pato fritas com pimenta, sem medo de que possam ser outra coisa que não línguas de pato fritas com com pimenta. 


sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Curarei a descaroço

Sei, por Portas das Ravessas, que este ano estamos mal de azeitonas. De Norte a Sul, o orgânico e centenário olival português sofreu às mãos de um tempo sacana! Das mais bravias árvores, marrecos e retorcidos exemplares de bojuda base e copa larga, às cuidadosamente podadas, bonsais sem escala, as oliveiras foram, na sua esmagadora maioria, por impossibilidade maior, poupadas ao varejamento outonal. Arquebina, picual, galega, cordovil ou hojiblanca, azeiteiras ou não, foram poucas as cultivares que se safaram. E a que se pensou estar minimamente aceitável não passou no teste. No lagar ou na curtimenta para a mesa. 
Não estou aqui a fazer a apologia da desgraça. Era o que mais faltava. Para isso, teria que curar sobre a infeliz falta que o azeite, uma das nossas maiores exportações, faz à economia nacional. Não é por aí. O que me preocupa é a eventual falta que o azeite bom, tuga, sem uma azeitona espanhola que seja, fará... à mesa de cada português. Aquele que arrepia, pela acidez, o tenrinho fiscal da ASAE. Aquele que cheira a milhas ao primeiro calor e ainda antes de receber a cebola, o alho, o louro, o tomate lá para o Verão. Aquele que afoga o bacalhau ou o polvo num quadro pintado a ocre de barro. Que cai em fio de ouro sobre a salada. Que trata a açorda por tu e tudo o resto por "amo-te, pá!"... 
Provei-os de todas as cores, odores e sabores. Do Norte de África a Israel, da Grécia continental às humildes ilhas Cíclades, de Itália a Espanha passando por França... acenei sempre. Com saudade. E vontade de escrever só para saber das boas novas... ao verdinho, intenso, desavergonhadamente sensual azeite português.
E se um dia não houvesse, sobre uma já gasta toalha de plástico, um pouco de vinho, um casqueiro e um pires de azeitonas temperadas a ervas do monte, esse jantar que nunca faltou aos nossos avós?  Quantos de vós reconheceriam, nisso, uma crise que não cabe em manchetes de jornal?



quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

[PUB]


O melhor vinho que €2,50 podem comprar. Honestidade. É isso! Não refere percentagens, mas a Alicante Bouschet está lá toda de bracinhos abertos. É deixá-lo respirar, minha gente, num copinho largueirão. 


quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Seja um Bom Cristão Flagelando o Islão [anúncio publicitário da Torquemada Unipessoal em 1315)

Todos os amigos do dIAZ acham que ele, essa 3.ª pessoa do singular, não é nada preconceituoso para com o Islão. Pura calúnia...
Em primeiro lugar, a óbvia preferência pelo Martim Moniz, o consumo desenfreado de carne Halal e a amizade que já vai longa com a comunidade paquistanesa olissiponense não provam, mesmo que em conjunto, nada.
Depois temos que, por muito verdade que isso pudesse ser, há sempre que ter em conta que o Islão tem, como todas as outras religiões, falhas graves.
Aponto, pois, a Maomé, a eventual ignorância que o terá impedido de ter em conta alguns dados culturais por forma a estabelecer excepções geográficas às leis que o fiel muçulmano tem que seguir. Jurisprudência monhé, portanto, porque o dIAZ também sabe expressões discriminatórias.
Pois bem, ó Mohammed... Isto não é só ouvir o que Alá tem para dizer, acatar a coisa com reverência e andar a dar ordens pela Península Arábica e Médio Oriente em nome do moço. Quando tu, jovem barbudo, chegaste a Muscat (Omã) e Syrah (Irão), devias ter tido em conta que há outras coisas sagradas para além Xariá (as leis do outro). Que ele até pode ter ouvido mal ou assim. O que vale é que houve um ou outro infiel que ainda conseguiu trazer algumas cepas das vinhas velhas para a Europa. A esse Muxarab ("Moçárabe" ou "Falso Árabe"), eis a nossa (nós, os consumidores de Moscatéis jeitosos e monovarietais Syrah) sentida homenagem. Já que a História foi ingrata!





sábado, 2 de fevereiro de 2013

Nada importa...

... Aconteça o que acontecer, teremos sempre escabeche, pequena!




Uma Península Mágica em 3 Actos

PRÓLOGO. 
Lá, numa terra longínqua, há uma Península Mágica. Tocam-na, com sensualidade marota, um sol como nenhum outro e um mar de azul mediterrânico, dadivoso como poucos. Cobrem-na florestas de pinheiro manso, pastos a perder de vista e vinhas que bebem de dois lençóis freáticos, Tejo e Sado a disputar méritos, mais as areias alvas a reflectir a luz de amadurecer a uva a ponto de, Moscatel, Syrah ou Trincadeira, Agosto é vindima! Limitam-na, a Sul, a serra de perfume a esteva e medronheiro. A Norte, a vista sobre Lisboa que Lisboa não tem. 

ACTO 1.
Moscatel de Setúbal Private Collection Domingos Soares Franco 1998, fermentação cortada a Armagnac (pipos de 5L escolhidos pelo próprio na proveniência)

ACTO 2.
Queijo de ovelha da D.ª Maximiana (nome fictício derivado da ASAE), Vila Nogueira de Azeitão.

ACTO 3.
Pão de trigo de Alfarim

EPÍLOGO.
Enquanto Portugal for Portugal, cada um honrará, mais do que defender, a sua Terra. A que o viu nascer e crescer. Não há árvore, bela e imponente, que não se alimente pelas raízes. 



dIAZ Checked In At His Confort Zone

1. Estou farto de ver programas onde alguém come, algures nos EUA, uma coisa a que chamam Confort Food. O Comer Confortável, portanto. Percebo o conceito. Não percebo como é que pode ser aplicado a frango panado. 

2. Estou farto de ver Pseudo-Lisboetas a aconselhar a Portugália ou a Trindade aos turistas que demandam um lugar onde possam comer um Late Night Snack. O Comer Fora de Horas, portanto.

3. Um jantar à Hora Certa é uma coisa assim para o militar. É quase uma obrigação. Qualquer coisa serve. Para além de que engorda. Está provado. Por alguém. Que eu não conheço pessoalmente. Mas sei que é gordo. Disseram-me. Um Jantar Fora De Horas é poesia estomacal. Segue-se à gástrica necessidade que vem com horas e horas de conversa, Gin&Tonic à mistura se tivermos sorte, minis ou ginjas ou martinis se for um dia como QUASE todos os outros, sendo que o QUASE se refere à eventualidade de haver dias em que é Gin&Tonic. O ânimo que daí vem é duplo. Estamos felizes e com fome. Não há melhor dupla de amigos que este, olarila. Ora, para aquietar este cocktail sensorial, a coisa não pode ser despicienda. É para isso que existe o Taste Of Punjab, Beco dos Surradores, à Mouraria. Não é indiano. É paquistanês. Carne Halal. Confeccionada com amor. Comida de Aquecer o Coração, chamei-lhe um dia. Como se um dia tivéramos uma avó de Sari que nos fazia aquele Byriani ou Jalfrezi ao Domingo. No caso desta gente, à Sexta. Depois da Mesquita. Confluem ali como que dizendo à Lisboa Hospitaleira Isto é autêntico, podeis confiar. Vão. E peçam a Carne Picada com Ervilhas. A qualquer hora. Ou fora dela. Mas dentro de uma mui bem delimitada Zona de Conforto.


quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Uma Reinterpretação Ou Lá o Que é Isso…

Venho de uma casa onde nunca me faltou nada. O que não quer dizer que não tenha faltado a quem me deu. Por isso mesmo, talvez. Sacrifícios, ou lá como se chama esse bicho. Comer Fora, por exemplo. Fez-lhes falta. Muita. Um restaurante era assim uma casa de férias só para algumas horas. Um Íbis do palato. Prazeres terrenos, Aqui Vou Eu! Uma coisa que se desejava durante muito tempo e sabia a recompensa. A qualidade desse destino tinha de ser indiscutivelmente boa. De contrário, empregados e proprietários tinham de saber aceitar as maiores críticas. Ter a capacidade de aceitar, com um sorriso, pratos devolvidos. Já cheguei a pensar que os meus pais foram o primeiro esboço da ASAE, mafarricos. Lembro-me de uma vez em que o Bacalhau à Zé do Pipo consistia numa posta de bacalhau panado, provavelmente sobejado do almoço, coberta de puré. Mestre dIAZ Sénior cofiou o bigode e disse Quero falar com o seu chefe. A pior foi a das batatas fritas congeladas, só para se ter uma noção da velocidade a que as coisas mudam quando o permitimos... Desculpe, mas está a levar Mil e Quinhentos Escudos por um prato para o qual ninguém se dignou a cortar batatas?... Para mim, era uma vergonha, na altura. Agora, é uma vergonha ver no que a restauração mediana, a que prolifera, se tornou. A culpa é dos clientes. Dos portugueses. Porque para turista Bacalhau à Brás basta! Permissividade, é isso. E, convenhamos, a banalização do Ir Comer Fora. Vamos porque sim. Vamos porque não. Ao almoço porque é convívio. Ao jantar porque apetece. Os estabelecimentos multiplicaram-se e desdobram-se em perninhas de frango no forno, lombo de porco assado, filetes de pescada e salmão grelhado, perca do Nilo por cherne, arroz de peru por arroz de pato à antiga. Menu de maximizar lucros. Comer de  minimizar a acutilância do palato. E por aí fomos descendo até chegar ao maior fenómeno do fast food tuga desde o frango assado com batata Pála Pála. Senhoras e senhores, vislumbrai o demónio que mancha, consome e putrefaz a Gastronomia Nacional… Trrrrrrrrrrr (isto é o rufar da tarola) Alheira com ovo!!!

...

O que leva um povo que sempre consumiu enchidos com encantadora frugalidade, ora cortados em pedaços para petiscar com pão, ora no cozido para dar sabor, ora no caldo verde para que surjam à superfície aqueles pequenos círculos a pontear de vermelho a clorofílica tez a, de um momento para o outro, galifar uma alheira inteira ladeada de batatas fritas e coroada com um teté, condenando uma tradição secular a mero primo afastado da salsicharia alemã? A alheira é a Weisswuster de Portugal! Podemos esperar um futuro onde as roullottes vendem farinheiras em pão de cachorro? Morcelas com batatas fritas onduladas sabor a presunto? Não sei. Sei que o consumo desmedido, generalizado e imoderado do espécimen transmontano assassinou-o. Oxalá que não de forma irremediável. E quem já alguma vez comeu uma alheira autêntica, caseira, de Mirandela ou não, porco bísaro lá dentro, sabe que são cada vez mais difíceis de encontrar. Mesmo quando tudo faz pensar que estamos diante de um exemplar que vale a pena, DOP ou lá o que é isso, o embuste revela-se aos primeiros aromas da confecção. Valha-nos a restauração de topo, cara, que trata com respeito os produtos de origem fidedigna. Valha-nos a tasca antiga, nas mãos da mesma família há anos, que não aspira a ser poiso para tratar de negócios. E valha-nos, sobretudo, quem os frequenta. Valha-me aquele membro da família, que ainda grita alguns impropérios em mirandês quando não quer que se perceba o que diz, e o que me depositou nas mãos um dia destes. Corri para casa.
<6 PAX>
12 forminhas de queques ou similares 1 alheira 1 cebola roxa grande1 massa Folhada (comprar já pronta – a receita envolve margarina para folhados, que obriga quase sempre a deslocações)12 ovos de codornizAzeite, flor de sal e pimenta preta qb
1.      Cortar a cebola em tiras ao alto e saltear em pouco azeite. NOTA – Não deixar fritar muito, a textura será importante.2.      Tirar a pele à alheira e juntar à fritura, envolvendo tudo até unir a mistura.3.      Untar as forminhas com manteiga (se não forem de silicone).4.      Cortar círculos de massa folhada com uma caneca e forrar as formas.5.      Encher as formas com o preparado e, com um dedo, deixar uma ligeira concavidade.6.      “Polvilhar” com um pouco de flor de sal e pimenta preta moída no momento.7.      Levar num tabuleiro a meio do forno, previamente aquecido a 180º, durante 30min.8.      Retirar o tabuleiro e deitar sobre a concavidade de cada forma um ovo de codorniz. NOTA – Estes têm de ser CORTADOS com uma faca de serrilha. A película interior não permite o costumeiro resultado ao parti-los, desfazendo a gema.9.      Voltar ao forno perto do grill mas só por 5 min. para “estrelar” os ovos.


segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Not So Junk Food Sunday

Gosto de pensar que educo o meu filho. Que zelo pela sua saúde. Que ele já sabe, em tão tenra idade, ao que sabem muitas das coisas boas da vida. Mas também faço concessões. Mimo-o, portanto. Assim, o jantar de Domingo é Junk Food but not so Junk. Porque para lá do fenómeno social que é, para as crianças e adolescentes, a McDonald's, não há razão para não lhe dar hambúrgueres. Não quero que o Mariachito seja um pária-ave-rara-excluído-do-grupo-esquisitóide-que-não-vai-ao-Mac. Mas também não quero que ele seja um gordo diabético. Tenho, isso sim, esperança que, um dia, ele prefira os meus hambúrgueres aos do outro palhaço. 

<6 pax>

Hambúrgueres 
500gr carne picada (com um nico de chouriço corrente) | 1/2 cebola | 1 d. alho | 1 colher de chá de cominhos | sal, pimenta preta e vinho branco q.b.
1. Triturar todos os ingredientes num misturador e juntar à carne picada, amassando bem.
2. Moldar os hambúrgueres à largura e espessura desejadas.
3. Grelhar em chapa muito quente, de ambos os lados, pressionando com uma espátula de vez em quando para que cozinhem no interior.
4. Torrar ligeiramente as duas metades do pão que acolherá o hambúrguer.

Cascas de batata fritas
1. Descascar batatas roxas até obter a quantidade desejada, secar com um pano e fritar em azeite muito quente.
2. Depositar sobre papel absorvente e temperar com sal grosso.

Aros de cebola fritos
1. Descascar cebolas roxas e cortar às fatias grossas e separar todos os anéis (ou aros).
2. Molhar os aros, passar por farinha e fritar em azeite bem quente.
3. Depositar sobre papel absorvente sem acrescentar sal

Molho Rosa
1. Num recipiente fundo, juntar maionese, ketchup e pimenta preta nas proporções desejadas.

Have Your Seasoning Seasonal, Please!

No fim do Verão, Ti Natália, Senhora Minha Mãe, fez o seu telefonema habitual do fim do Verão... Anda cá buscar tomates que eu não dou conta de tanto tomate. Mentira. Dá conta sim senhora e muito bem. É doces para o Inverno, frangos de tomatada, sopas de tomate com pão e ovo escalfado, eu sei lá. Fui. E foi de bagageira cheia de magníficos exemplares de maçã-de-ouro, em italiano, que segui, com o mê má novo, para a praia, aproveitar um daqueles que seriam os últimos dias de calor. Na Fonte da Telha, o final do dia é ainda hoje marcado pela Arte Xáfega. Ou simplesmente As Artes. Cada Arte (embarcação e seu grupo) puxa, a partir da areia, a rede que foram deixar ao mar umas horas antes. Quando o peixe chega, é aberto o saco para revelar, a maior parte das vezes, sardinha, cavala, lula, choco, um ou outro linguado e muito peixe-aranha. Não no fim do Verão. Aí, o carapau é rei. Pequenos. Sim, esses, os jaquinzinhos. A coisa é de tal forma que, este ano, a lota comprava-os a 0,25€/kg. Era vendido no mercado a 3€. Alguém anda a ganhar muito dinheiro. Mas não quem tem o trabalho. Voltei para casa a pensar em duas coisas. 1 - Ter de amanhar 3kg de jaquinzinho e 2 - A ironia de, numa tarde, de forma não planeada, ter no carro um dos grandes ícones da gastronomia nacional OU Toma lá para aprender porque é que jaquinzinhos fritos com arroz de tomate é tão bom. Porque é, tcharaaaaaan, sazonal. 
De tão recorrente, o assunto sazonalidade até parece religião. Ou filosofia, ou assim. Os habitantes das grandes cidades, apartados do sector primário, seguem as indicações do seu gurú, o nutricionista, e depois vão ao templo, o hipermercado. Aquele sítio onde há cogumelos no Verão e pêssegos no Inverno. As gentes do interior português (sim, ainda há gente no interior português) olham para tudo isto com estranheza. Para eles, a sazonalidade, esse bicho, é a forma mais natural, barata e tradicional de comer o comer. Porque é a única. A natureza, essa dadivosa entidade abstracta, é irritantemente organizada no que toca a timmings. Contrariá-los é comprar uma guerra que está, à partida, perdida. Aceitar placidamente as suas indisposições e viver mediante as limitações que isso pode trazer é, contudo, humano. Faz parte da nossa condição. É isso que é suposto sermos, como animais dependentes da Natureza. Não é por sermos racionais que devemos ser chico-espertos. Ou carapaus-de-corrida...



quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Com ou sem elas, como as iscas...

Não percebo o fascínio pela ginja de Óbidos. A convencional. Da garrafa preta. Não da caseira, que por certo haverá e boa, suponho. Mas não consigo deixar de pensar naquilo como o Mateus Rosé da coisa. Viu um uvas? Viu inglês as ginjas!



terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Gosto das tuas burras, porco!

Acredito que, no tempo em que a frugalidade obrigava ao comedimento, o palato era mais aguçado. E no que toca às burras (bochechas, queixadas), está bom de ver, cada javardo só tem duas. Sendo que cada casa só criava um animal, está montado o paradigma da coisa. A fidalguia de cada um desses fibrosos, tenros e saborosos medalhões exigia, pois, um tratamento à altura. Pode ser-se alarve a comer torresmos, a cortar fatias de toucinho na salgadeira, a grelhar as primeiras febras pós-matança, a ferver o sangue para fazer cachola (sul) ou sarrabulho (norte), a cortar chouriças, linguiças, cacholeiras, moiras, paios e paiolas para os convivas. As burras, porém, meus amigos, eram a gourmanzisse dos antigos (e ó se as tinham). Como tal, fumavam-se uns poucos de dias, depois de marinadas em massa de pimentão e sal. O resto, fazia-o, no tão ansiado dia do consumo, um bom forno a lenha. O número dos comensais com direito a tal desfrute pouco interessava. Mas eram, a maior parte das vezes, muitos. Tantos que não passaria, hoje, pela cabeça dos mal-habituados portugueses haver tão pouco conduto. Ainda que pão e vinho não faltasse. Afinal, era uma festa quando havia burras na mesa. Mesmo que fossem só duas!


<6 pax>

4 burras de porco preto | 1 kg batatinhas | 1/2 kg cenouras | 1 cebola grande OU 2 pequenas | 2 d. alho | massa de pimentão | azeite | louro | vinho branco | mel | alecrim | pimenta preta | sal 

1. Envolver as burras em massa de pimentão, regar com um pouco de vinho branco e deixar a marinar de um dia para o outro, coberto, no frigorífico.

2. Dispor as burras num tacho largo e raso, cobrir com a cebola cortada finamente, cenoura às rodelas, alho esmagado (e não picado), louro, alecrim, temperar com um pouco de pimenta preta, pouco sal (a massa de pimentão já o tem) e regar com vinho branco até um quarto da altura. Deixar cozinhar no lume mais baixo possível 2h sem destapar.

3. Dispor as burras no centro de um tabuleiro de barro e rodear de batatinhas. Regar tudo com o molho que ficou no tacho (cebola e cenoura). Sobre as batatas deitar um fio de azeite e só depois sal grosso. Sobre as burras deixar escorrer um fio de mel. 

4. Vai ao forno cerca de 1h a 180º. Revolver as batatas sempre que necessário.





domingo, 20 de janeiro de 2013

De Coração - A Ameixa d'Elvas no Topo da Sericá [A Cereja no Topo do Bolo é para os outros]

O dIAZ tem um amigo que vai abrir uma tasca em pleno Bairro Alto. Não é para todos. Mas este merece. Era o Chef do "Petiscos no Bairro", singela casa, cozinha portentosa. Polvo frito, à galega, pica-pau, pataniscas, farinheira com ovos... tudo coisinhas que, ao serem trincadas, produzem aquela troca de olhares entre comensais à qual se segue o inevitável pedido de mais uma garrafa de vinho e um cesto de pão. E se isto não diz tudo é porque ainda falta dizer... "arroz de feijão". Está dito... Arroz de Feijão, assim, em Caixa Alta. Acerca da importância gastronómica do conteúdo desse tachinho de barro que vem (ou deveria vir) para a mesa a borbulhar, curarei outro dia. O que para aqui é agora chamado não é o Arroz de Feijão-Património-Espiritual-Tuga, mas sim o Arroz de Feijão-do-Fernando-ex-Chef-do-Petiscos-do-Bairro. Que é, curiosamente (ou não), brasileiro. E ao importante papel nutritivo que o Feijão com Arroz teve no Brasil (não agora, tomara o tuga voltar a comer um camarão, quando eles se enchem de muqueca), chamou Fernando poesia com a reinterpretação da receita dos "Patrícios" do lado de cá. Cada um arma a coisa com os argumentos que quer. Já o comi com farripas de lombardo, para acompanhar entrecosto grelhado, lá para os lados da Pontinha. Com muito tomate e apenas um ou outro feijão perdido, noutro sítio qualquer. Com agulha e com carolino. A borbulhar no pontão do Ponto Final, Ginjal, com Lisboa para lá do fumo que sai do tacho de barro. Fernando confessa que o refogado de cebola e alho leva um nico de chouriço e farinheira. São malandrices próprias de arroz que se quer malandrinho. Foi, de facto, o Arroz de Feijão mais cremoso, gostoso e apetecível de sempre. Que podia acompanhar tudo o que vem na ementa. Ora, quem faz um Arroz de Feijão destes merece o mundo e tomei para mim as dores da sua nova casa no que respeita à De Coração. Uma espécie de missão. Se o moço quer uma tasca de comida típica tuga a lembrar a da minha avó, então o tuga ajuda o zuca a perceber que, no que toca aos artigos que nos habituámos a ver numa tasca, há incontornáveis ícones. Que em tempos achámos ridículos. Mas agora urge salvar. É uma questão de identidade. Mesmo quando falamos do Bairro Alto. Ou principalmente porque falamos do Bairro Alto. Reinterpretar, sim. Descaracterizar, não.

A saber:

ObRiGatÓrioS >>>> Prateleira de conservas | Expositor de parede com navalhas, lâmina IVO e/ou ICEL | Almanaque Borda d'Água pendurado para consulta | Balcão de mármore à altura do peito e não da cintura | Duas pipas, uma de branco, outra de tinto | Zé Povinho de loiça a fazer o manguito | Calendário com gatinhos | "O Galo Que Adivinha o Tempo" | Loiça das Caldas.

fAcuLtAtiVos >>>> Cabeça de javali | Expositor de pentes para venda | Expositor de Gillettes para venda | Prato com ovos cozidos sobre sal.

Sugestões não aceites. O dIAZ não tem qualquer credibilidade como Graça Viterbo Tasqueira. Tanto melhor. Já sei como decorar a minha tasca. Quando ela existir, isto é.