quarta-feira, 30 de outubro de 2013

CoMeR de PoBrE!

Batata Olho-de-Perdiz. É um dos primeiros sintomas do Outono. E o fôlego extra de uma cozinha. Pura alegria. Desconfiem sempre da gastronomia que não glorifica a batata. Nem considerem aquela que, pura e simplesmente, não a usa. E a todo o minimalismo a que se pode dar largas com ela. Poucas coisas neste mundo provam que parcos recursos não significam escassez de sabor como a batata. Olho-de-Perdiz. Principalmente!

Usá-la em tudo, com tudo e a toda a hora, por favor! E nem se pense, por um segundo, em desperdiçar as cascas. Frite-as. E para um maior desfrute, faça uma maionese caseira carregadinha de pimenta verde moída no momento. 

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Vamos à caça de ROCAS, FRADES ou PÚCARAS? Vai ser um morticínio épico!

Rocas | Frades | Púcaras se de Trás-os-Montes | Beiras | Alentejo, as denominações destes selvagens, carnudos e aromáticos presentes da dadivosa província variam consoante as gentes que sabem (oh se sabem) que estes só variam ligeiramente consoante cresçam debaixo dos silvados (mais alvos) ou à sombra dos carvalhos (mais escuros). Já a maneira de cozinhá-los é tão unânime que, abaixo, divido em apenas 2 categorias: O Purismo e o Vamos Lá Ver No Que Isto Dá!
PURISMO [1] – Acenda a lareira ou o fogareiro | Retire o pé e vire-o “de pernas para o ar” | Espalhe bastante sal grosso e deposite-o perto das brasas até ficar “tostado” | Retire-o, “exprema” para retirar a água que entretanto ganha e… Bom proveito!
PURISMO [2] – Lave-os até retirar uma espécie de “capa” mais escura | Corte-os em pedaços não muito pequenos para que possa sentir textura aquando da degustação | Aos pés, corte-os ao meio longitudinalmente e pique | Num tacho, aqueça um fio de azeite e saltei-os | Quando o aroma já deixar adivinhar o maravilhoso pitéu que aí vem, tape | Deixe cozinhar até soltarem (muita) água e junte sal a gosto e uma caneca de arroz agulha para cada duas de água | mexa e deixe cozinhar em lume brando até perder perder toda a água.
VAMOS LÁ VER NO QUE ISTO DÁ [1] – Siga todos os passos do PURISMO [1] | Corte-os em pedaços pequenos, adicione 2 dentes de alho picados, pimenta preta a gosto, coentros e azeite suficiente para que permita molhar pão.
VAMOS LÁ VER NO QUE ISTO DÁ [2] – Lave-os, corte-os em pedaços e reserve | Pique um pedaço (pequeno) de bacon e frite-o em azeite num tacho | adicione os cogumelos, salteie e sue com vinho branco | Adicione sal a gosto, ervas consoante a região onde os mesmos foram apanhados (ex.: Carqueja ou Salsa se apanhados no norte, Alecrim ou Oregãos se a sul) e junte uma caneca de arroz carolino | Deixe esta mistura fritar e volte a suar com mais um fio de vinho branco | Adicione uma medida da mesma caneca de água e uma de leite meio-gordo | Mexa e deixe cozinhar em lume muito brando até restar pouquíssima água | Apague o lume, volte a mexer e tape o tacho por alguns minutos.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

dO Porto aOs cOrgos, nÃo me dOam as jUntaS!




Tenho a certeza que todos vocês têm um amigo do Porto. Ou mais. Muitos. Alguns deles ficam-se por “Os vinhos de que mais gosto são os Durienses”. Outros, mais ferranhos ou, no mínimo, exagerados, largam um “Eu só bebo vinho do Douro”.
Isto podia ser um regionalismo. Não é!
Do Porto à Régua, Pinhão, Alijó, São João da Pesqueira ou Sabrosa, não se me assem as virilhas de tanto andar ou me dêem cãibras no gémeo esquerdo de tanto carregar na embraiagem.
Quem percebe da geografia nacional concluirá que, comparativamente, o lisboeta teria de dizer que só bebe vinho de Vila Velha de Ródão! O Figueirense só beberia das Beiras. Os Caminhenses, coitados, deixariam de lado os seus belíssimos alvarinhos para beber uma zurrapa galega qualquer.
O “problema” do Porto é o mesmo de Lisboa. Não tem vinho. No que toca à proximidade, Lisboa estará, porventura, mais bem localizada, com Carcavelos, Colares, Bucelas e Península de Setúbal à mão de vindimar. À sombra desta lógica, os portuenses beberiam verde da malga e, diga-se em abono da verdade, não ficariam nada mal servidos.
Isto até poderiam apenas ser “achaques” idiossincráticos da convivência nacional. Mas é grave! Porque o volume de negócios (neste sector) gerado na Invicta possibilita muita coisa mas, posto o acima, inviabiliza muita outra. Neste momento, o Douro é a Grande Potência da vitivinicultura lusa. E é-o com justiça. Têm bons vinhos, carago. É que nem há discussão. Mas paira nos corgos um preconceito para com o Sul que chega a abafar o facto do Moscatel de Setúbal ter sido considerado o melhor do mundo e o de Favaios nem sequer ter sido pré-seleccionado de entre os franceses e italianos! Mais, está à partida morta qualquer possibilidade de nos unirmos numa luta pelo Vinho Português num Mercado Internacional onde o canibalismo já é terrível porquanto tudo estará perdido se andamos nestas briguinhas fedelhas internas!
Até porque em nome do Todo o Outro Vinho de Portugal, temos algo a apontar:
1.       É vergonhosamente desonesto que a Casa Ferreirinha, dona e senhora do Barca Velha Orgulho Nacional, lance para o mercado o Esteva. Tenham, por amor de alguém, decência!

2.       O Mateus Rosé, vinho que não o é e que, infelizmente, é o “Vinho Português” mais conhecido do mundo… é vosso! O Sul não tem qualquer responsabilidade sobre um excelente marketing aplicado a um produto que poderia muito bem vir das margens do Rio Amarelo. Sim, o da China!

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Bolo dJí Rolo


Para quem gosta de tecnologia e tem que estar sempre munido do último modelo de um gadget qualquer, fazer escala em Berlim é A Oportunidade.
Para os maníacos da imprensa escrita, receita-se Heathrow.
 Quem tem um fraquinho por produtos de papelaria em geral e cadernos com papel XPTO ou caneta XPTL em particular, vê na loja Fabriano do aeroporto de Roma… O Paraíso.
Quem precisa de um forte incentivo para deixar de fumar, pode sepre recorrer ao tratamento de choque “Sinta-se tratado como um leproso em plena Idade Média”, muito em voga no Aeroporto de Miami, Florida, E.U.A.
Quem aprecia gastar dinheiro em barda porque não sabe o que fazer a tanto, pode comprar sêmola de trigo sob quase todas as formas e artigos têxtil com etiquetas da Prada cosidas por chineses em esconsas caves de Nápoles, tudo inflaccionado em cerca de 250%, no aeroporto de Milão.
Quando embarcam em Recife, Brasil, Ti Ricardo Nery e/ou a sua cara metade, Ana Carolina Vasconcelos (Carol, para os amigos), lembram-se sempre de trazer aquilo que eu só consigo definir como uma espécie de crepe muito fino recheado de goiabada e posteriormente enrolado. E só quem nunca provou Bolo de Rolo é que não sabe toda a maximização que pode ter o minimalismo!
Um grande Schlép para todos vós,
O dIAZ!

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Da HonesTidAdE


No tempo em que os consumidores portugueses estavam civilizacionalmente mais próximos da fase produção do que comiam eram, naturalmente, mais exigentes. 
Os estabelecimentos, no último degrau da cadeia, não tinham outra hipótese que não serem, no mínimo, honestos, face ao conhecimento de que estavam munidos os seus clientes. 
[ Exemplo 1 ] O francês comum percebe minimamente de vinho. Não é "perceber" de vinho do estilo vou comprar esta garrafa porque é dispendiosa e faço um brilharete no próximo jantar lá em casa ou o vinho deve beber-se à temperatura ambiente ou não bebo brancos porque vinho é tinto. Isso são tiques de um país que ainda tem preconceito com O Néctar. Em França, bebe-se vinho sem que ninguém ache que isso fará dele um saloio alcoólico, essa sim, saloiice suprema. O vinho é parte da cultura, acompanha quotidianamente mesmo quem não o consome e, pasme-se, é motivo de orgulho nacional. Tudo isto empresta algumas obrigações aos produtores. Num ano bom, um Borgonha qualquer custará €50. No ano seguinte, porque o terroir não foi favorável, a mesmíssima garrafa pode custar €5. Porque é que isto acontece? Porque o produtor sabe que não poderá enganar o consumidor. Está obrigado a ser honesto. Em Portugal, há "marcas" que não fazem nada a que se possa chamar vinho desde 1986. Ainda assim, continuam a levar €3 por uma zurrapa ridícula a que o consumidor português é capaz de chamar "bebível". Enquanto isso, os produtores, pouco preocupados em educar o tuga a gostar de vinho, entretêm-se com guerrinhas internas, o Douro às cabeçadas com o Alentejo, o Dão a desdenhar as Beiras, são todos melhores que os outros e não há nenhum "génio" que una esta gente toda para que deixemos, de uma vez por todas, de ser conhecidos lá fora pelo Mateus Rosé.
[ Exemplo 2 ]  Não passaram muitos anos desde que o prato do dia à segunda-feira era bacalhau. Bacalhau com grão, à minhota, com broa, assado na brasa ou sob a forma de qualquer um dos seus sub-produtos, dos pastéis às pataniscas. Porquê? Porque os pescadores também têm Domingo. E nesse tempo, os clientes sabiam-no! Hoje, que a frota pesqueira portuguesa está reduzida a números históricos, até pode haver peixe fresco no primeiro dia da semana. Mas não é tão bom, por uma razão simples: Não é nosso. De tudo isto a maioria não sabe. Come, à segunda como noutro dia qualquer, "douradinha" como se não houvesse carapau, "robalinho" como se o salmonete não soubesse a marisco, desconhece por desinteresse, preocupa-se apenas com o "colesterol bom", a dieta, o cheiro que ficará na roupa e, logo, na repartição durante a tarde se optar pelas sardinhas. Não se pense, nem por um momento, que isto só nos empobrece culturalmente. Come salmão, pequena; Come salmão! Depois mete a metafísica na rabeta, que é uma corvina pequena, como certamente sabeis!
[ Exemplo 3 ] Andar em hipermercados, esses animais do dumping que condenaram, nos últimos anos, tantos e tantos produtores a um desconforto económico inaudito, à procura do selo “Compro o que é Nosso” não chega para resolver as coisas. Tampouco se admite, nos dias de hoje, qualquer interjeição de espanto quando se percebe que os produtos hortofrutícolas numa Mercearia de Bairro são, desde que nacionais e sazonais, muito mais baratos (se não a metade do preço). Do nível qualitativo dos mesmos, nem se fala. Estamos, como saberão, no Outono. É uma óptima altura para testar a honestidade de um estabelecimento. O mesmo deverá ter, por obrigação sazonal, maçã Bravo de Esmolfe. Por obrigação orgânica, Pêra Rocha com menos de 5cm de diâmetro. Comprem, por todos nós!