De Coração - A Ameixa d'Elvas no Topo da Sericá [A Cereja no Topo do Bolo é para os outros]
O dIAZ tem um amigo que vai abrir uma tasca em pleno Bairro Alto. Não é para todos. Mas este merece. Era o Chef do "Petiscos no Bairro", singela casa, cozinha portentosa. Polvo frito, à galega, pica-pau, pataniscas, farinheira com ovos... tudo coisinhas que, ao serem trincadas, produzem aquela troca de olhares entre comensais à qual se segue o inevitável pedido de mais uma garrafa de vinho e um cesto de pão. E se isto não diz tudo é porque ainda falta dizer... "arroz de feijão". Está dito... Arroz de Feijão, assim, em Caixa Alta. Acerca da importância gastronómica do conteúdo desse tachinho de barro que vem (ou deveria vir) para a mesa a borbulhar, curarei outro dia. O que para aqui é agora chamado não é o Arroz de Feijão-Património-Espiritual-Tuga, mas sim o Arroz de Feijão-do-Fernando-ex-Chef-do-Petiscos-do-Bairro. Que é, curiosamente (ou não), brasileiro. E ao importante papel nutritivo que o Feijão com Arroz teve no Brasil (não agora, tomara o tuga voltar a comer um camarão, quando eles se enchem de muqueca), chamou Fernando poesia com a reinterpretação da receita dos "Patrícios" do lado de cá. Cada um arma a coisa com os argumentos que quer. Já o comi com farripas de lombardo, para acompanhar entrecosto grelhado, lá para os lados da Pontinha. Com muito tomate e apenas um ou outro feijão perdido, noutro sítio qualquer. Com agulha e com carolino. A borbulhar no pontão do Ponto Final, Ginjal, com Lisboa para lá do fumo que sai do tacho de barro. Fernando confessa que o refogado de cebola e alho leva um nico de chouriço e farinheira. São malandrices próprias de arroz que se quer malandrinho. Foi, de facto, o Arroz de Feijão mais cremoso, gostoso e apetecível de sempre. Que podia acompanhar tudo o que vem na ementa. Ora, quem faz um Arroz de Feijão destes merece o mundo e tomei para mim as dores da sua nova casa no que respeita à De Coração. Uma espécie de missão. Se o moço quer uma tasca de comida típica tuga a lembrar a da minha avó, então o tuga ajuda o zuca a perceber que, no que toca aos artigos que nos habituámos a ver numa tasca, há incontornáveis ícones. Que em tempos achámos ridículos. Mas agora urge salvar. É uma questão de identidade. Mesmo quando falamos do Bairro Alto. Ou principalmente porque falamos do Bairro Alto. Reinterpretar, sim. Descaracterizar, não.
A saber:
ObRiGatÓrioS >>>> Prateleira de conservas | Expositor de parede com navalhas, lâmina IVO e/ou ICEL | Almanaque Borda d'Água pendurado para consulta | Balcão de mármore à altura do peito e não da cintura | Duas pipas, uma de branco, outra de tinto | Zé Povinho de loiça a fazer o manguito | Calendário com gatinhos | "O Galo Que Adivinha o Tempo" | Loiça das Caldas.
fAcuLtAtiVos >>>> Cabeça de javali | Expositor de pentes para venda | Expositor de Gillettes para venda | Prato com ovos cozidos sobre sal.
Sugestões não aceites. O dIAZ não tem qualquer credibilidade como Graça Viterbo Tasqueira. Tanto melhor. Já sei como decorar a minha tasca. Quando ela existir, isto é.
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