segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Have Your Seasoning Seasonal, Please!

No fim do Verão, Ti Natália, Senhora Minha Mãe, fez o seu telefonema habitual do fim do Verão... Anda cá buscar tomates que eu não dou conta de tanto tomate. Mentira. Dá conta sim senhora e muito bem. É doces para o Inverno, frangos de tomatada, sopas de tomate com pão e ovo escalfado, eu sei lá. Fui. E foi de bagageira cheia de magníficos exemplares de maçã-de-ouro, em italiano, que segui, com o mê má novo, para a praia, aproveitar um daqueles que seriam os últimos dias de calor. Na Fonte da Telha, o final do dia é ainda hoje marcado pela Arte Xáfega. Ou simplesmente As Artes. Cada Arte (embarcação e seu grupo) puxa, a partir da areia, a rede que foram deixar ao mar umas horas antes. Quando o peixe chega, é aberto o saco para revelar, a maior parte das vezes, sardinha, cavala, lula, choco, um ou outro linguado e muito peixe-aranha. Não no fim do Verão. Aí, o carapau é rei. Pequenos. Sim, esses, os jaquinzinhos. A coisa é de tal forma que, este ano, a lota comprava-os a 0,25€/kg. Era vendido no mercado a 3€. Alguém anda a ganhar muito dinheiro. Mas não quem tem o trabalho. Voltei para casa a pensar em duas coisas. 1 - Ter de amanhar 3kg de jaquinzinho e 2 - A ironia de, numa tarde, de forma não planeada, ter no carro um dos grandes ícones da gastronomia nacional OU Toma lá para aprender porque é que jaquinzinhos fritos com arroz de tomate é tão bom. Porque é, tcharaaaaaan, sazonal. 
De tão recorrente, o assunto sazonalidade até parece religião. Ou filosofia, ou assim. Os habitantes das grandes cidades, apartados do sector primário, seguem as indicações do seu gurú, o nutricionista, e depois vão ao templo, o hipermercado. Aquele sítio onde há cogumelos no Verão e pêssegos no Inverno. As gentes do interior português (sim, ainda há gente no interior português) olham para tudo isto com estranheza. Para eles, a sazonalidade, esse bicho, é a forma mais natural, barata e tradicional de comer o comer. Porque é a única. A natureza, essa dadivosa entidade abstracta, é irritantemente organizada no que toca a timmings. Contrariá-los é comprar uma guerra que está, à partida, perdida. Aceitar placidamente as suas indisposições e viver mediante as limitações que isso pode trazer é, contudo, humano. Faz parte da nossa condição. É isso que é suposto sermos, como animais dependentes da Natureza. Não é por sermos racionais que devemos ser chico-espertos. Ou carapaus-de-corrida...



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